Esquema movimentou mais de R$ 39 milhões em
propina; dinheiro foi repassado a um blog alinhado ao PT e até a uma escola de
samba
Por: Laryssa Borges e Thiago Bronzatto, de
Brasília
Ex-tesoureiro
do PT, Paulo Ferreira (Nilson bastian/Câmara dos
Deputados)
A Polícia Federal deflagrou nesta segunda-feira a 31ª fase da Operação
Lava Jato. Batizada de Abismo, ela tem como um dos alvos o ex-tesoureiro do PT
Paulo Ferreira, que foi preso
recentemente na Operação Custo Brasil e ainda estava
detido. Ao todo, estão sendo cumpridos 35 mandados judiciais, sendo quatro de
prisão temporária, um de preventiva, a de Paulo Ferreira, 23 de busca e
apreensão e sete mandados de condução coercitiva. O esquema movimentou mais de
39 milhões de reais em propina.
A nova fase tem como foco de investigação fraudes e o pagamento de
vantagens em licitação no Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), no Rio de
Janeiro. Segundo a Polícia Federal, o nome Abismo faz referência à tecnologia
de exploração de gás e petróleo em águas profundas. "Esquemas como estes
identificados levaram a empresa aos recantos mais profundos da corrupção e da
malversação do dinheiro público", disse a corporação. O esquema de
cobrança de propina em obras do Cenpes já havia sido detalhado pelo ex-gerente
da Petrobras Pedro Barusco, delator da Lava Jato.
"O povo brasileiro já não aguenta mais agentes políticos que
flertam, namoram ou mesmo se casam com a corrupção. É preciso que as duas
principais causas da corrupção descoberta na Lava Jato, as falhas do sistema
político e a impunidade, sejam atacadas", disse o procurador da República
Roberson Pozzobon.
Segundo os investigadores, em 2007, a OAS, Carioca Engenharia,
Construbase Engenharia, Schahin Engenharia e Construcap CCPS Engenharia saíram
vitoriosas na disputa fraudulenta do Cenpes, tendo abocanhado um contrato de
848,98 milhões de reais. Acordos de leniência fechados com empresas
investigadas na Lava Lato e depoimentos de delação premiada de executivos da
Carioca Engenharia detalharam o esquema: depois de as empreiteiras terem
acertado os termos do cartel para fraudar a licitação no Cenpes, a empresa
WTorre Engenharia e Construção S/A (WTorre), que não havia participado dos
ajustes, apresentou proposta de preço inferior, colocando em risco o esquema
criminoso.
Foi então que as companhias combinaram propina de 18 milhões de reais
para retirar a WTorre do certame. Além de repasses de dinheiro sujo para a
diretoria de Serviços da Petrobras, feudo do PT à época comandado por Renato
Duque, foram identificadas propinas, entre 2007 e 2012, para diversos agentes: 16 milhões de
reais para o operador Adir Assad, alvo recente da Operação Custo
Brasil, 3 milhões para Roberto Trombeta e Rodrigo Morales, 711.000 dólares para
o operador Mario Goes, responsável por gerir propinas da Andrade Gutierrez e
também delator da Lava Jato, e 1 milhão de reais para o ex-vereador Alexandre
Romano, delator que colocou o casal de petistas Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann,
na mira dos investigadores do petrolão.
Nas delações premiadas da Lava Jato, Alexandre Romano, conhecido como
Chaminho, confessou que repassou propina para Paulo Ferreira por meio de
contratos falsos. Segundo o delator, as empresas Oliveira Romano Sociedade de
Advogados, Link Consultoria Empresarial e Avant Investimentos e Participação
Ltda. foram utilizadas para receber mais de 1 milhão de reais em propina de
construtoras que participavam da concorrência no Cenpes. O dinheiro, então, foi
enviado a Paulo Ferreira e a destinatários indicados por ele, como familiares,
blogs com linha editorial favorável ao PT e até uma escola de samba.
Custo Brasil - Embora, na última semana, o
ministro José Antonio Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), tenha
determinado a soltura da maior parte dos alvos da Operação Custo Brasil, entre
os quais o ex-ministro do
Planejamento Paulo Bernardo, sob a alegação de que a detenção do
petista foi um "flagrante constrangimento ilegal", Paulo Ferreira
permaneceu preso porque o juiz Paulo Bueno de Azevedo considerou que ele
poderia atrapalhar as investigações se fosse colocado em liberdade.
"Três operações da última semana, Saqueador, Custo Brasil e
a de hoje, são ramos de uma mesma árvore. Juntas formam um ícone da recente
articulação da Justiça que começa a cercar em diversas frentes de investigação
megaesquemas criminosos de desvio de dinheiro público que se interconectam. É
expressão disso o fato de que há alvos em comum entre Lava Jato e as demais,
como Adir Assad, no caso da Saqueador, e Paulo Ferreira, na Custo Brasil",
afirmou o coordenador da força-tarefa da Lava Jato Deltan Dallagnol.
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